quarta-feira, 19 de março de 2008

ausência

tua ausência
esse abismo pendurado
na consciência

noite de verão
a cama grande demais
só meu coração

Alberto Centurião
Sampa 1999

segunda-feira, 17 de março de 2008

Madeira de Lei

um artista é fruto vivo da terra
brota do chão
feito um roçado de arroz ou de feijão
emerge do solo da sociedade e da raça
rosa florindo espinhos
espinhos formando um peixe
peixes formando um signo
de liberdade e beleza
um artista é uma árvore:
quanto mais alto se eleva
mais fundo faz seu mergulho
e se o artista se fina
seu tronco não se elimina
produz madeira de lei

Alberto Centurião
Sampa, lá pelos anos 80 ou 90

quinta-feira, 13 de março de 2008

É agora.

Para mim, com afeto e admiração,
às vésperas dos meus 43 anos.

Vertiginosamente me aproximo do instante/ponto a que vou.
Tenho comigo mesmo um encontro há muitos anos agendado.
É preciso estar pronto
é preciso estar presto
é preciso saber a que vou, aonde vou.
É preciso estar certo
ser preciso é preciso.
Eu, que nunca me afastei de mim
tenho comigo este encontro marcado.
Estou maduro e a hora é agora.
Chegou a minha vez e eu vou.
Porque sei aonde vai o meu vôo.

Alberto Centurião
SP, 02/08/94

sexta-feira, 7 de março de 2008

higiene

há vários dias não escrevo um poema
isso me faz mal
o fluxo interrompido
feito uma congestão nasal
me intoxica
me asfixia
num misto de excesso e falta
de poesia
a hipotética palavra informulada
perdida entre a idéia e o ato
desfeita entre coito e parto
nem chega a ser quem seria
fico mal quando me falta
a higiene diária da poesia
Alberto Centurião
Sampa 06/03/2008

domingo, 2 de março de 2008

A Tatuagem, o Cisco e o Colírio

Palavra por palavra tatuada
Sobre a mítica epiderme da cultura
Na torrente das imagens consumadas
Vai um poeta desde o berço à sepultura.

Num fraseado em aparente desalinho
Faz a escritura rigorosae sincopada,
Auto grafando-se o artista em torvelinho
Sobre a folha de papel dermificada.

De assonância em assonância ele descreve
O paraíso interior do seu martírio
Onde se atreve a ser eterno sendo breve.

Na escuridão luminescente do delírio
Distende a corda desse arco que descreve
Dor e delícia desde o cisco até o colírio.

Alberto Centurião
Sampa, 26/08/2007

A lua do meu desejo

A lua do meu desejo
Nas fases do teu olhar
Esquenta pelo teu beijo
Acende por te amar
Alberto Centurião
SBC 25/05/2004.