segunda-feira, 27 de junho de 2011

pororoquinha metafórica

o rio corre ao contrário
o mar entra pela terra
levantando uma barragem
ao rio que fraco reflui
mas embora seja o mar
forte e às vezes bravio
por fim quem vence é o rio
porque mais do que franzino
seu curso mole é constante
já o mar de maré cheia
torna-se em pouco vazante

embora fraco e molenga
não é somente por conta
da sua perseverança
que o rio vence a pendenga

é porque a água do rio
se mistura com a do mar
até que o mar já não sabe
se a água é dele ou do rio
porque água é sempre água
quer seja doce ou salgada
seja de mar ou de rio

e não vendo a diferença
que diferença não há
o mar recolhe e recua
porque tudo sendo água
se acaba a desavença

ah se os homens aprendessem
que assim feito mar e rio
nós temos corpos de água
e se o rio vence o confronto
quem sai ganhando é o mar
que se alimenta da água
que o rio lhe vai despejar

Alberto Centurião
Pauba, 25/06/2011

sábado, 25 de junho de 2011

haikai e trova na praia

moça de biquini
a onda lambe-lhe os pés
galante tsumini

coração com anagrama
menina escreve na areia
a onda vem e esparrama
o coração devaneia

AC − Pauba, 24/06/2011

terça-feira, 14 de junho de 2011

serpenteando

serpente ou não ser
ser ou não serpente
estou careca de saber
pensa a serpente
a serpentear

(Sampa, 13/06/2011).

segunda-feira, 13 de junho de 2011

O artista e seu retrato quando velho

tem vezes que a gente faz coisas que não se faz
e sabe que não devia
mas faz e depois se arrepende
e sente vergonha
medo repulsa dó desalento
mas já fez e está feito
e bate uma baita tristeza
e o coração se oprime
e um peso aperta o peito de um jeito
que o osso do peito sente a pressão
mas já não tem jeito
o que está feito está feito
então o jeito é juntar os cacos
com soldar o que sobrou
tratar de refazer o próprio ego
ferido despedaçado
o dia desperdiçado
e já que não tem conserto
o que foi feito foi feito
consertar a auto-imagem
juntando toda a coragem
para encarar no espelho do fato
o próprio auto-retrato
e decidir fazer com novos atos
novos fatos
para um novo auto-retrato
mais ao gosto do artista
que faz do gesto pincel
e na tela da vida usa o matiz da palavra
para o estudo frustrado recobrir com novas telas
mais do seu jeito mais belas
que o artista sem retoques não seria irretocável
e à custa de repintar-se o artista se reconstrói
recriando os próprios atos
até recriado inteiro tornar-se iguaria fina
o artista quando velho é a própria obra-prima

Alberto Centurião
Joinville, 28/11/2007

terça-feira, 7 de junho de 2011

reencarnator

um corpo para muitas almas
reencarnação às avessas
o ator merece palmas

AC – Sampa 07/06/2011