terça-feira, 29 de janeiro de 2008

A Exceção é a Regra

Tudo é possível
Nada é impossível
Tudo é irreal
menos o que é

Se tudo pudesse
tudo não seria
Possibilidades
Não são o que é

Ser ou não ser
Eis, aqui estão
os que são
e os que não

Ser ou não
Ser talvez
Ser talvez não
A regra ou a exceção?


Alberto Centurião
São Paulo, 2007

A caneta do meu pai

A caneta do meu pai
Obedece à minha mão
Traçando o sonho que sai
Da tinta do coração.
AC/Sampa 16/06/2001.

sábado, 26 de janeiro de 2008

;-)

caneta nova
poeta
posto à prova
AC/Séc.XX

a feia

era tão feia que chegava a ter certa beleza
uma beleza assim toda errada
toda assim mal acabada
bela por diferente
sem harmonia ou requinte
a não ser pela estrutura de requintada feiúra
nem elegante ela era
mas tinha um charme pungente
por isso mesmo era bela
ou ao menos atraente
pois para aquela feia não faltava pretendente
mas ela era seletiva
homem belo não servia
nem feio ela namorava
a feiosa escolheria um que fosse inteligente
capaz de enxergar beleza nessa feia diferente

Alberto Centurião
Sampa 25/01/2008

quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

São Paulo em Dia de Chuva

Choveu,
hoje a cidade está limpa.
A água podre
dos poucos rios que ainda restam
foi purificada pela natureza
e caiu em bênção de chuva
sobre nossos cabelos cheirando a fumaça.

A grossa camada de poeira gordurosa
é lavada de todas as coisas,
o sangue dos suicidas e atropelados
é lavado do asfalto,
o ácido fedorento das fábricas
é lavado de nossos olhos.

A nossa alma é lavada.
Alma coletiva, individual,
alma de cidade.
Resíduos de rancores, ódios, medo,
são lavados de nosso coração.

Nossos pulmões enegrecidos
de fumaça e óleo
são lavados em ar puro, limpo, fresco.
Respiramos mais fundo,
peito menos carregado,
idéias mais claras.

Olhando, enxergamos mais longe,
se vê nítido o outro lado da rua.
As cores mais vivas,
o asfalto brilhante,
as luzes mais acesas,
os olhos não ardem.

O céu cor de cinza
não é do cinza de sempre.
Quase azulado
lavado na chuva
é mais luminoso.

Hoje nós olhamos para as árvores.
Algumas que nunca notamos
hoje tão bonitas
as folhas mais verdes
florescem como um paradoxo
no meio da rua.

Os ruídos da cidade são mais calmos.
Mais carros, mais acidentes,
mais calma, em dia de chuva.
Um jeito de campo domina a cidade.
Olhamos da janela
e temos a impressão de estar
numa pequena cidade do Interior.

Atrás dos primeiros edifícios
imaginamos um imenso campo verde.
Ficamos imaginando
como seria bonito este lugar
em dia de sol...
Como o céu deve ser de anil,
como o sol deve brilhar,
como a brisa...
a vida...
a feli...

Alberto Centurião
Sampa 1977

Poema no metrô

Tomo o metrô, a poesia ao meu lado
fazendo a viagem sem pagar passagem.
Noto que anda meio calada.
Sempre foi de pouca prosa, a minha poesia.
Me faz companhia quase sem falar
e eu, seu porta-voz, fico sem assunto.
Difícil resistir a dizer, em nome dela,
coisas que não disse, por temor de que se fosse.
Mas sei que o seu silêncio nunca foi vazio.
Calo-me e sorrio.

Alberto Centurião
Sampa 25/07/2003

quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

Esse cara

Esse cara canhoto
de jeito canhestro
que mira do espelho
não fosse tão velho
diria que é eu.

Se destro e mais moço
se bem que parece
tão velho no espelho
quem dera não fosse
diria que é eu.

Alberto Centurião
Sampa, outubro/2004

terça-feira, 22 de janeiro de 2008

Inicio hoje o blog tantas vezes adiado

para compartilhar minha poesia
minha seiva
meu jeito de estar no mundo
linguagem essencial
que me veio com as letras
tudo é poesia
o resto é subproduto

Quem quiser receber poemas por e-mail pode entrar no site www.grupos.com.br e inscrever-se no grupo "boboletra" (Poemas de Alberto Centurião).

A Velha Senhora

a Arte, esta velha senhora sempre moça e ainda menina
tem critérios indefiníveis para selecionar lugares e companhias
freqüenta ambientes inesperados
anda com gente que julgamos indigna
não atende a convites
visita sem mandar aviso
e vai embora sem se despedir
duas pessoas podem estar juntas
e só uma receber sua visita
ou em uma multidão
a cada qual falar com atenção particular
visita a todos
e aos que a vêem toca com um perfume inesquecível
mas a alguns de sua predileção
ela dá seu braço para a caminhada

Alberto Centurião
Sampa, final do Século XX