vida

eu me embolei de bola em bola

eu me joguei de jogo em jogo

eu me passei de passe em passe

eu me lancei de lance em lance

eu me enrosquei de drible em drible

eu ziguezagueei de zaga em zaga

eu me esfalfei de falta em falta

e me esbaldei de gol em GOL!

 AC – Sampa, 1990

patriamada

a pátria é mais que o território

patriotas e expatriados

são parte da pátria

autóctones e apátridas aportados

são parte da pátria

partidários e libertários

rapinantes e solidários

os que unem e os que repartem

são parte da pátria

no peito de quem parte

vai parte da pátria

a pátria é um estado de espírito

                     AC – Sampa, no Metrô, 25/10/2013

recriatura

escrava do que escreve

recria-se a criatura

liberta-se no libreto

depura literatura

AC - Sampa, 30/04/2013

amai

amai

amai

amai
e se demais amais
amai ainda mais
e mais
e mais
amai
amai

AC – Sampa, 18/04/2013

conversa inversa

universo controverso

destino adverso

poeta perverso

poema reverso

escolho disperso

mesmice diversa

AC – 17/03/2013

poema à flor da boca

olho a ilha

diviso a divisa

as palavras estão lá dentro

mas não têm motivo para sair

então ficam

recatadas

à espera

inquieta mente espreita

vadia mão divaga

tudo é véspera tensão estática

tudo é quase

então

aflora a fala à flor da pena

e a mão num gesto rápido

captura no ato

o que instantes antes

atenta a mente capta

e o poeta tira de letra

água de pedra

flores do estrume

lírios do pântano

folhas de grama

frutos da estação

AC – Sampa, 06/03/2013

ato reflexo

o espelho me fez refletir
esse que me olha e não vê
parece mas não sou eu
não é mas nele me vejo
olho no olho no espelho
me vejo nele sem pejo

(AC – Sampa, 28/02/2013)

(Foto de Alessandra Haro)

o diabo a quatro

o primeiro susto

a segunda culpa

o terceiro sinal

o quarto escuro

e o quinto dos infernos

AC – Sampa, 12/01/2013

eu e o tempo

o tempo devora o mundo
transforma tudo em saudades
meu destino acontecendo
e eu comendo brevidades

AC - Sampa, 11/01/2013

pátria amada

tua bandeira tremula
no meu mastro trêmulo
teu corpo é meu país

AC

eu vivo

um ano se foi

e outro começa

a vida prossegue

correndo sem pressa

o tempo só passa

no instante presente

ser pedra e vidraça

viver de repente

no aquário fechado

do estar permanente

eu vivo cercado

de um mundo de gente

sem rota de fuga

se encontra o vivente

viver se conjuga

no tempo presente

AC – Sampa, 01/01/13 (Ano da borboleta)