domingo, 29 de agosto de 2010

Ah, a vida

A vida é simples
A gente complica
Sejamos felizes
com tudo o que fica

A vida é boa
A gente não presta
Se estressa à toa
e estraga a festa

A vida é bela
A gente é chorão
No fim da tabela
vai ser campeão

A vida é banal
A gente é vulgar
Parada final
Pra recomeçar

Alberto Centurião
Sampa, 27/09/2007

sábado, 28 de agosto de 2010

A Ação Sem Agitação

Não seja burro, Inteligente,
seus neurônios o neurotizarão.
Não exiba coroas à cobiça,
sua cabeça rolará.

Quem governa obedecendo,
educa sem paixão,
mais sente do que sabe
e seus filhos têm coração.

Aquele que provê a mesa
e dispensa a certeza
terá na despensa
os lírios do campo.

Uma nação Tao
deixa vendido o vendilhão
e não dá ao medíocre
miséria por diversão.

Governa o sábio por não mandar.
Sem agitar ele faz tudo se ordenar:
Tao é a paz.
Livre-adaptação/tradução de
Alberto Centurião de Carvalho, Antonio Thadeu Wojciechowski e Roberto Prado.


O Viver Para Os Outros

Positivo, negativo.
Onde estão as pilhas do Universo?
Ele dá a vida eterna
e nada guarda pra si mesmo.
 Assim, não se gasta,
nunca está sozinho
e ainda lhe sobra vida eterna.

Por estas e por outras o sábio sabe,
 mesmo sendo meio desligado.
Engraçado ele ser o primeirão
apesar de estar após o último da fila.
Seu corpo não passa de cavalgadura
que ele não maltrata por ser lerda.

É que ele nada quer para si mesmo.
E não será por isso
que ele não se gasta,
nunca está sozinho
e ainda lhe sobra vida eterna?

Livre-adaptação/tradução de
Alberto Centurião de Carvalho, Antonio Thadeu Wojciechowski e Roberto Prado.

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Os 4 Teatrantes

Um Menestrel e um Saltimbanco,
um Bobo e um Bufão,
saíram pelo mundo
para representar.

Querendo honrar a Deus,
entraram numa igreja.
Contaram um Mistério,
mas foram enxotados.

Chegaram a um lugar
onde existia um rei
e às portas do palácio
armaram o seu tablado.

Mas, Sua Majesdade
achou desagradável
e os quatro teatrantes
mandou para o Mercado.

No meio das barracas,
puseram-se a cantar
e a freguesia, ouvindo,
parava de comprar.

Furiosos mercadores,
pediram 'gentilmente'
que fossem dando o fora
os quatro teatrantes.

Saíram de mansinho
para o meio da rua,
contar suas histórias
a todos que passavam.

E para grande espanto,
fizeram tanto sucesso
que na hora de ir embora
todo o povo foi atrás

Saíram de fininho
para o olho da rua
contar suas histórias
a todos que passavam.

Por pura maravilha,
fizeram tal sucesso
que na hora de ir embora
todo mundo foi atrás

De um Menestrel e um Saltimbanco,
um Bobo e um Bufão,
que saíram pelo mundo
para representar...

Alberto Centurião / Música de Tarcísio José
Sampa, 1980

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

tempesta

meu peito troveja
meu sonho naufraga
meu sangue goteja
meu olho faz água

Alberto Centurião
Sampa 10/05/2008

domingo, 22 de agosto de 2010

minha dileta poesia

tenho sido apreciado por tantas outras coisas
que não a minha poesia
por meus outros predicados tenho sido eu valorizado
não pela minha poesia
que dentre as coisas que faço
é por certo a mais obscura
expressão quase secreta
minha dileta poesia
logo ela que de mim é o dote que mais prezo
e no entanto eu sei que se algum dia
alguém que não conheci
lembrar de mim quando eu morrer
será pela minha poesia

Alberto Centurião
Sampa 17/02/2008

Apreciando o panorama

O céu, tigela esmaltada
Alado em suas penas
vai fundo no azul
esse pássaro ferido
Parece o olho que o segue
nesse páramo parado

Alberto Centurião

sábado, 21 de agosto de 2010

Adeus

mais um amigo que se vai
despedida faz lembrar
do dia em que foi meu pai
                   AC, Sampa, 21/08/2010
                   Em memória de Chico Cuberos Neto

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

todo dia

todo dia é sábado
todo dia é domingo
só que às vezes chove
só que às vezes frio
de segunda a segunda é dia de feira
todo santo dia é feriado
todo dia santo é consagrado
mesmo quando profanado
todo dia passa em direção ao passado
e quando chega lá é memorizado
os dias enfileirados batem ponto no batente
mas não deixam de ser uma entidade inexistente
porque a gente que existe
viaja o tempo e não sente
que o tempo não existe
a eternidade é presente

Alberto Centurião
Sampa, 01/12/2007

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

velhice

oscilar entre o sublime
e a tolice

          AC - 27/01/2005

entre quem sabe e quem não

uma idéia quase boa
quase nova
que dá pena jogar fora
quem sabe uma meia-sola
dê mais uma sobrevida
ao pensamento avançado
de um tempo já transcorrido

quem sabe um belo discurso
consiga dar novo alento
ao pensamento cansado
caduco e ultrapassado
quem sabe dá pra ir à festa
de vestido remendado

quem sabe tem sempre em mente
sua fé inabalável
numa idéia renitente

quem não sabe desconfia

na cabeça reticente
de quem não sabe e duvida
o óvulo é fecundado
o novo é um ovo galado
das trevas da ignorância
pela luz da inteligência

o pensamento divaga
entre quem sabe e quem não
um deles conhece tudo
no outro que nada sabe
há um mundo em gestação

ou não?

Alberto Centurião
Sampa 30/12/2007

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Viverdejar

Errar por certas paragens
Andar por ermas passagens
Ermidas pedras pastagens
Viver a dizer bobagens
Levar a vida a contento
A alma solta no vento
Um coração barulhento
Relega o sonho ao relento
Entre frondosas ramagens
Lançar para o firmamento
No meio de uma estiagem
Vergôntea ramo rebento.
Alberto Centurião
Sampa, 05/09/2007

O Gato

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Loas ao gato

Um gatinho deitado no meu colo, com a cabeça apoiada em meu braço é a sensação mais próxima de paraíso que minhalma consegue alcançar. Sentir sua respiração ao compasso do lento pulsar da barriga é pressentir Deus como veio ao mundo, sentir em estado puro. O gato é a obra prima da criação, o animal em estado de perfeição. Tudo mais que vive foi tentativa de fazer o gato, menos bem sucedida. O reino animal é o rascunho do gato.

Tudo bem que o ser humano tem o raciocínio contínuo e se confunde com isso e escreve discursos inteiros sobre o que pensa que sente, mas quem consegue sentir como um gato? Quem consegue abraçar como um gato? Aconchegar-se como um? Quem sabe ser tão solidário, podendo ser solitário? Quem é capaz de ser feliz com um afago? Quem consegue prescindir de um, como o gato?

Domingo sem tédio, sono total em qualquer cama de pedra, tudo isso sem falar na sua elegância natural, seu à-vontade no mundo, coisa de dominante da cadeia alimentar. Que o gato é a mais perfeita máquina de guerra jamais construída, por isso sabe viver em paz. E a beleza do gato, que gato feio não existe, quem pode se comparar? Quando o homem tentou viver sem gatos não deu certo, porque veio a peste negra e depois dela outras pestes. Os gatos vivem sem os homens, e muito bem, se quiserem, mas gostam de nós e por isso fazem uma concessão e nos felicitam com a sua companhia. Dádiva generosa da mãe natureza, modelo de perfeição colocado ao nosso lado para que nós, seres tão sem jeito e desengonçados, tenhamos um modelo a imitar, com quem aprender para sabermos melhor quem ainda queremos ser.

Alberto Centurião - Sampa, 22/10/2007