sábado, 17 de março de 2012

A Fresta

Feito porta que se abre. Depois de um tempo fechada, abre-se, agora destravada.
Parcimoniosamente, com rangidos moderados e média luz doutro lado. Sem lances apoteóticos, porta simples, porta de passagem, porta estreita.
Estaco ante esta porta agora entreaberta, que antes eu esmurrava. Meu ombro já se magoou tentando em vão arrombá-la. Agora é a porta que me olha, convida e faz mistério.
Se momentaneamente fico sem ação, arrisco que se feche novamente. Porque pretenderia eu mais espaço que o que serve a meu corpo de passagem?
Ocultando seus segredos neste mínimo entreabrir-se, faz-me a porta o seu convite a fazer a descoberta no exercício de transpô-la.
Provoca medo tal ato de convite ou desacato.
Estaco, estou ante a porta. Não tenho tempo, de fato.
Decido e faço, no ato.

AC - Sampa, 1997.

Nenhum comentário:

Postar um comentário