Transcrevo aqui o prefácio que tive a honra de escrever.
Amplo Espectro – Prefácio
Alberto Centurião
Seres
multifacetados que somos, em múltiplas personas nos manifestamos; porém existe
uma delas que mais nos mostra e revela. Pois a persona poeta é aquela que mais
se afeiçoa à protoface pessoa, porque de todos os feitos manifestos do sujeito
é a poesia seu jeito de mostrar-se o mais inteiro e perfeito, para seu próprio
deleite. São muitos Robertos Prado, mas a persona poeta do sujeito indigitado é
aquela a que me refiro aqui nestas maltraçadas.
Não falo, pois, da pessoa, mas da persona poeta. Por certo, a que mais chega
perto do nosso amigo Roberto, mais conhecido por Beco.
Pelo
conjunto da obra, Roberto Prado está entre os grandes de sua geração e se
destaca em meio àquela chusma de bravos que, há meio século, aquartelados em
Curitiba, produzem essa beleza grátis, perfeita, natural a que chamamos poesia,
que vira música, que vira teatro, que vira slogan, que vira e mexe invade a
vida e causa espécie, espanto e alumbramento.
Do
alto de seus quase dois metros de estatura física, está em posição privilegiada
para lançar mira sobre o mundo, a caçar mazelas e belezas, em busca de
inspiração e motivo para essa obra de amplo espectro, destilada neste tomo e
diluída em inúmeros solos e parcerias que se espraiam por outras praias – o
cinema, a música, o teatro, a crônica, o conto, a tradução e a novela literária
– além das tarefas do ganha-pão com o jornalismo, a propaganda e o marketing –
e de nutrir sua numerosa prole com pão e poesia, amor e filosofia.
Manuel
Bandeira declarava-se poeta menor, (1) por
suas características de temática e linguagem, em contraste com os ditos poetas maiores, grandiloquentemente
voltados a temas sociais e universais. Já Roberto Prado passeia com
desenvoltura por grandes e pequenos temas, sabendo ser épico e confessional,
filosófico e romântico, místico e satírico; ao tratar com igual desenvoltura
microcosmos e macrocosmo, paixões e revoluções, sua lira soe soar contrapontos
de infinitos e infinitésimos, tragédia e farsa, filosofia mística e miséria
social. Sendo de sua natureza ser poeta maior e menor, produziu a obra de amplo
espectro contida neste tomo, sob o título que de certa forma, inadvertidamente
ou não, o classifica e define.
Trinando
com igual desenvoltura sua voz pelas escalas maior e menor,
alevanta-se na rara condição de poeta de
amplo espectro. Humildemente carismático, sabe ser confessional sem
pieguice e descer aos detalhes sem perder perspectiva. Navega no mar das
emoções sem afogar-se num rio de lágrimas, discreto e marcante, coerente e
contraditório, múltiplo e único. Recatado sem timidez, respeitoso sem
subserviência, alegre sem euforia, grandioso sem grandiloquência, engajado sem
ser panfletário, delicado sem fragilidade e vigoroso sem pesar a mão, sua
poesia é sofisticada sem hermetismo, descomplicada e complexa, requintada sem
ostentação, simples com estilo e veemente sem imposição. Como ele não disse,
mas poderia ter dito: É pouco ou vai querer mais?
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