– Diga logo Cantador
O que foi que aconteceu.
Digue logo, por favor,
Como foi que aconteceu!...
Meus amigos, quem vos falaO que foi que aconteceu.
Digue logo, por favor,
Como foi que aconteceu!...
É o cantador de cordel.
Quando uma idéia me estala,
Vou passando pra o papel.
Eu levo a vida cantando
Pro povo da minha terra,
Histórias que vou lembrando
Dos causos que a vida encerra.
Apareceu um garoto
Pras bandas do meu nordeste.
Um cabra de tão maroto,
Mais parecia uma peste.
A mãe não tinha mais jeito,
Vivia encabulada.
Um dia pegou o tal sujeito
E sapecou umas palmadas.
O tal de anjinho sem asas
Não gostou das gentilezas.
Resolveu fugir de casa,
Levar vida na moleza.
Acordou de madrugada,
Antes do galo cantar.
Botou o pé nas estradas,
Deixando a mãe a chorar.
Veio parar na cidade
Sem ter lugar pra morar.
Passando necessidade,
Aprendeu a trabalhar.
Nesta cidade perdido
Carregando seu segredo,
Sem ter nenhum conhecido
Passou fome, frio e medo.
Sem encontrar moradia,
De uma ponte fez abrigo
Mas muita falta sentia
De um verdadeiro amigo.
A um moço desconhecido
Que um dia pediu pousada
Ele deu casa e comida,
Fez seu novo camarada.
Mas um dia descobriu,
Só por casualidade,
Que o rapaz que ele acudiu
Vinha da mesma cidade.
Ai meu Deus, quanta alegria
Daqueles cabras da peste.
Conversaram todo o dia
Das coisas lá do Nordeste.
O amigo lhe disse, então,
Da falta que ele fazia.
Da tristeza no sertão,
Do quanto a mãe padecia.
Ele então, arrependido
De fazer a mãe chorar,
Sabendo que era querido
Pra casa quis regressar.
Empreendeu logo a viagem
Que tantas vezes sonhara:
Cinco dias de estiagem
Em riba de um pau-de-arara.
Meninos, chegou o dia,
Faltou lugar no sertão
Pra caber tanta alegria,
Pra guardar tanta emoção.
A mãe abraçando o filho
E o filho com a mãe do lado.
Nos olhos tamanho brilho
E o coração abrasado.
Depois de tudo passado,
A mãe a Deus foi rezar
Por ter um cabra safado
Virado um filho exemplar.
Meus amigos, tendo em vista
Que a hora vai adiantada,
Se despede o repentista
Depois da história contada.
Alberto Centurião
São Paulo, 1981
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