sexta-feira, 4 de novembro de 2011

sobre o medo

o medo é um sentimento insidioso
que penetra nas entranhas do ser
ou é gerado dentro delas
sei lá
o caso é que
estando ali alojado
desfibra corrói amolece apodrece
o medo é uma toxina
que se infiltra por capilaridade
e uma vez impregnada injetada inseminada
é feito uma resina que a tudo contamina
degrada os fluidos orgânicos
distorce a percepção
sequestra a lógica
instala tal sentido de urgência
que o sujeito
de medo intoxicado
entre agredir ou fugir às vezes fica parado
herói paspalho e covarde reconhecem muito bem
agressão inércia fuga são três respostas possíveis
aos três estágios do medo
numa escala graduada entre pânico e receio
entre certeza e suspeita
entre a reles ilusão e a completa alucinação
vacila o cidadão
do terror mais deslavado à fúria descontrolada
a exposição prolongada ao medo
faz ficar exasperado em constante irritação
além de ser graduado o medo tem muitas faces
medo de ter ou carecer
de ver ou saber
de ser agredido perseguido aniquilado
ameaça presente do futuro ou do passado
de fonte certa ou incerta
mas o medo que mais ameaça
por mais seja descabido
é o medo descomunal que causa o desconhecido
cuja ameaça é maior pior mais tenaz perniciosa
porque o medo estando dentro
destila o seu veneno por via intravenosa
secreta hormônios trilha neurônios
e acorda monstros reconhecíveis críveis por mais incríveis
porque habitando dentro
conhecem como ninguém fraturas falhas fissuras
incoerências secretas ridículos taras demências
em que o ser se atormenta se delicia ou compraz
o medo é feito um espelho que reflete o que há por dentro
vísceras e desejos revirados luz e treva entreverados
por isso que o mestre medo é um professor detestado
que castiga mas ensina o aluno matriculado
na disciplina da vida cujo nome é coragem
a erguer com desassombro o novo sobre os escombros

AC - Sampa 19/11/2007

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